sábado, 18 de dezembro de 2010

Eduardo Campos ´Vamos consolidar o crescimento`

Entrevista

A consolidação do processo de reindustrialização de Pernambuco será o foco do segundo governo de Eduardo Campos (PSB), que está encerrando o seu primeiro mandato com uma avalanche de anúncios de novos empreendimentos no estado. O governador acredita que, com o impulso da industrialização, o Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco vai dobrar em 10 anos. Os êxitos do governo Eduardo não se limitam apenas ao aspecto econômico. A implantação do modelo de gestão, que possibilitou avanços em todas as áreas da administração, representa uma inovação no serviço público e um fator que comemora. Essa é de fato uma conquista em quatro anos. Ao assumir o governo em 2006, Eduardo afirmou que gostaria de ser reconhecido no país por ter implantado uma nova forma de governar em que os fundamentos básicos fossem a eficiência e a meritocracia.


Foto: Helder Tavares/DP/D.A Press
Em entrevista ao Diario, o governador Eduardo Campos reafirmou sua confiança na futura presidente Dilma Rousseff (PT) e disse que dela só espera que cumpra a promessa de tratar Pernambuco da mesma maneira que o presidente Lula (PT) tratou. Reeleito com 82,84% dos votos, Eduardo garantiu que irá cumprir o mandato até o último dia: ´O resultado das urnas é a expressão de muito carinho, muito respeito, muita crença. Peço a Deus força para, junto com minha equipe, construir esse 'daqui pra melhor', que nós já estamos mostrando`.

A profissionalização da gestão reduz bastante a influência política. O senhor sente dificuldade nisso?Não. Na verdade, o nosso objetivo é ampliar a participação. Todo modelo está calculado em buscar as demandas inicialmente legítimas, seja através da representação parlamentar, dos prefeitos, das associações, dos sindicatos, das cooperativas. Ou seja, nós ampliamos o modelo Todos por Pernambuco, o acesso da população à definição da prioridade. E, a partir daí, cuidamos de colocar em funcionamento uma inovação na gestão que garanta que essa demanda legítima, que a política, o movimento social, a Assembleia nos traz, seja executada. E para ser executada, é preciso ter ferramenta na gestão, tem que cortar despesa ruim, ter prazo, botar meta e gestores que vão dar conta. Tem que profissionalizar e qualificar o servidor público, investir na meritocracia, porque senão você recebe a demanda e não consegue entregar o resultado.

Mas ela não pode chegar de maneira extemporânea? O governo não pode definir prioridade acada três meses ou a cada audiência. Aí ele não tem foco. Não terá planejamento, não terá um método de trabalho e não conseguirá entregar, porque se definir uma prioridade e três meses depois mudar, terá que abandonar o projeto que estava fazendo para começar outro. Uma coisa que meu avô (o ex-governador Miguel Arraes) dizia e eu repito isso sempre: na vida, como é natural, as pessoas querem ser alguma coisa. Mas na política nem sempre elas dizem o que querem ser e por quê querem ser. É fundamental que essas duas respostas sejam dadas. E eu procurei, como candidato em 2006 estudar, andar mais o estado, que eu já conhecia muito, ouvir muitas pessoas, discutir o lastro de um programa de governo. Ler o que estava acontecendo no Brasil e no mundo. Vinha de uma pasta (Ministério da Ciência e Tecnologia) que dialoga muito com o futuro, com cenários. Enxergava ali, claramente, que havia possibilidades muito expressivas para Pernambuco. Para você buscar ser, mas sabendo porquê e para quê. Isso me ajudou muito a pegaresse programa de governo e identificar nesse debate pessoas que vieram traduzir na gestão o que se pode fazer. E a forma como eu fui eleito. A maneira como se deu a eleição em 2006, me deu também a compreensão, e com o apoio da base aliada que eu tive, para fazer as mudanças culturais que têm que ser feitas para implantar um modelo desse. Isso é uma mudança cultural.

Esse modelo que vocês estão implantando, profissionalizando a gestão, significa evitar retrocessos nas próximas administrações?Hoje, um diretor de gestão, escolhido pelo comitê de busca, dificilmente vai voltar atrás. Você tem meta a ser cumprida na escola, na segurança pública. Quando começa a acompanhar a produtividade na área da saúde. Quando tem indicadores para cada objetivo estratégico, quando chama o servidor público por concurso, gestores que passam no concurso duríssimo, que vão ter sua remuneração com uma parte fixa e uma variável em função das metas da área onde vão atuar. Então, estamos fazendo uma mudança que não é mais uma mudançade governo. É uma mudança que vai ficar para o aparelho de estado, para que a gente possa avançar na qualidade do serviço público a ser prestado ao povo. Povo que paga muito tributo e que quer um serviço público que não olhe só dentro, mas que olhe para fora, para quem está precisando dele.

O senhor vai ter condições de repetir essa performance nos próximos quatro anos? Por que todo mundo está falando que o próximo ano vai ser mais difícil...Esse é meu desafio. E vou fazer. Tenho confiança que vou fazer porque a economia de Pernambuco vai estar melhor. Nós estamos mais experientes. A máquina também está mais preparada. Fizemos vários concursos. Pessoas entraram no estado. A gente tem um bom momento da economia. É claro, e todos sabem, a própria presidente (Dilma Rousseff) já falou, o ministro Guido (Mantega, da Fazenda) já falou, a ministra Miriam Belchior (futura ministra do Planejamento) já falou, o ano de 2011 vai ser um ano em que o governo federal vai apertar muito a liberação de recursos.

Vamos ter um crescimento econômico menor de que no ano de 2010, do ponto de vista nacional. Mas nós estamos animados com o resultado do ano de 2011.

O senhor reconhece que existe uma dependência (do governo do estado) em relação ao governo federal, mas acha que essa dependência dá para diminuir cada vez mais?Acho que a tendência, com todo esse desenvolvimento econômico que chega nos próximos dez anos, é de que o PIB de Pernambuco vai dobrar. Em poucos lugares no mundo se tem a possibilidade de ver dobrar a produção econômica, mudar a matriz econômica da forma como nós estamos vendo a nossa mudar. Você imagine que nós estamos vivendo um processo de reindustrialização em Pernambuco. A expressão que a indústria tinha no PIB em Pernambuco foi encolhendo ao longo dos últimos 30 anos e agora ela vai crescendo em setores que apontam para o futuro e em setores que têm impacto no resgate de outros. Entendo que todo esse processo vai deixar o estado com mais condições, com dinheiro azul e branco, de garantir o seu desenvolvimento. Mas sempre é importante, no pacto federativo, usar a força política que tem para ir buscar os recursos em Brasília, o que Brasília deve a cada estado. Nós fizemos isso durante os últimos quatros anos do governo Lula e vocês viram os números do nosso PIB. A gente teve com o presidente uma parceria muito importante, muito saudável. Não ficamos só com a relação política, de companheiros e de amigos. Nós colocamos nessa relação o interesse de Pernambuco, da virada e, graças a Deus e ao trabalho, chegou o tempo de Pernambuco.

O senhor acha que vai ter essa mesma parceria com o governo Dilma?Acho que sim. Mas primeiro tem que ter projeto. O que traz dinheiro é ter projeto, ter projeto bom, equipe que produza. Por exemplo, o nosso PAC I cresceu porque a gente tinha projeto da duplicação das BRs-408 e 104. Segundo, nós temos o compromisso da presidente Dilma. Fiz só um pedido a ela, na frente de Lula, na frente de todo mundo, das televisões, dos jornais, na frente do povo. Pedi que ela tratasse Pernambuco da mesma forma que Lula tratou e ela disse que ia tratar. Disse que aceitava o desafio, que ia assumir o compromisso. Então, não tenho porque duvidar do compromisso assumido por ela. Acho que o combinado não é caro. Nós queremos seguir com essa parceria, que é boa para o Brasil e que tem sido boa também para o nosso estado.

O senhor reconhece algum problema político partidário que possa impedir ou prejudicar isso?O nosso intuito na relação com o futuro governo federal é o mesmo que o atual. Queremos ajudar o Brasil. Ajudar a dar certo, a fazer as coisas para o Brasil melhorar. Ela sabe da qualidade da relação que nós temos.

O senhor acha que ela (Dilma Rousseff) mudou?Acho que ela está mais tranquila do que durante a campanha. A campanha foi uma coisa muito nova para ela. Ela nunca tinha feito uma campanha assim. A campanha também ganhou um tom que ninguém queria que tomasse e hoje eu tenho dito isso e digo com muita convicção que tenho preferido a presidente eleita do que a candidata. Ela está muito mais solta no falar, mais segura. Ela conhece a máquina, os meandros da burocracia. Sabe que o desafio dela é muito grande. Sabe que não pode errar, tem que acertar. E acho que o sentimento do brasileiro é de torcer para dar certo.

A princípio todo mundo torce por isso...Eu digo isso porque houve uma pressão da oposição no primeiro turno. A eleição foi para o segundo. A oposição elegeu um número expressivo de governos, estados que formam quase a metade da população. Mesmo assim, mesmo tendo havido essa campanha tão sangrenta que a gente viu, em determinados momentos tão desqualificada de conteúdo, a gente percebe que, do ponto de vista da sociedade, os palanques estão desarmados. Agora resta aos políticos seguirem por outras saídas.

O PSDB já desarmou os palanques. Os governadores do partido anunciaram que não vão fazer oposição ao governo Dilma. O que o senhor acha disso?Foi um sinal muito importante para o Brasil, para Dilma e para os governadores também. Tem muitos setores da oposição que estão fazendo isso por acreditar.

E por precisar também...Uma parte por acreditar, outra por precisar, outra por acreditar e precisar. E uma parte menor ainda só por precisar (risos).

O senhor acha que Aécio Neves (ex-governador de Minas Gerais e senador eleito) pode ser um bom parceiro para conseguir essa união?Acho que Aécio vai ter uma expressão muito importante no Senado. Ele vem com um acúmulo, uma experiência de governo com êxito, conhece a política nacional, sabe do papel que vai ter na oposição. Acho que ele vai atuar como conciliador, como uma pessoa que tem diálogo com muitas pessoas na base do governo, como tem comigo, com Marcelo Déda (governador de Sergipe), com Jaques Wagner (governador da Bahia), com a própria Dilma. Acho que, sem perder a identidade de oposição e fazendo oposição, ele pode ajudar. Tendo um comportamento de não fazer oposição ao Brasil. Em assuntos de estado, está conosco, como o PSDB teve no primeiro governo Lula. Lula só votou as reformas no primeiro ano de governo porque teve o apoio do PSDB, e eu fui um dos que foi lá buscar apoio do então PFL.

Será difícil para Dilma suceder Lula?Acho que a tarefa de substituir Lula, com esse grau de aprovação que tem o presidente, é uma tarefa dura para qualquer brasileiro ou brasileira. Ela tem consciência disso. Ela não é igual ao Lula nem vai procurar fazer igual. Ela vai preservar os valores do governo Lula. Dilma tem que emprestar à Presidência da República o potencial que ela tem. E qual é o potencial? O potencial de gestão, de fazer acontecer, de poder dar celeridade a determinados projetos. É isso que ela tem que fazer. Nem durante a campanha ela procurou ser igual a Lula.

O senhor acha que ela vai ter dificuldade em função de ser de um PT ´diferente` do PT de Lula?O que eu tenho ouvido do presidente Lula é que ele vai estar sempre à disposição para ajudá-la ao máximo. E a forma de ajudar é deixar ela formar a equipe, passar quatro meses em mergulho...

Mas não é no sentido de montar a equipe, mas exatamente no Congresso como um todo.Boa parte da bancada do PT, dessa parte do PT mais próxima de Dilma, é um pouquinho diferente da bancada que Lula tinha à disposição.

Acho que o PT tem todo interesse de ajudar a Dilma. O PT não pode criar problema. O PT, o PSB, e outros partidos têm que ajudá-la a resolver problemas porque, afinal de contas, todos nós somos avalistas da Dilma. O presidente Lula é o principal avalista, mas nós somos avalistas também.

Na campanha de 2006, o senhor pontuou tudo o que ia fazer no governo. E agora, o que senhor vai fazer?Na verdade, o estado chegou a um patamar, a um momento da economia que não podemos resumir o governo a fazer uma estrada nem a que vai fazer três hospitais, ou que vai fazer a energia baixar. Nós temos que cuidar do grande desafio do governo. E qual é o grande desafio? É melhorar a qualidade de vida de nosso povo, que é um valor abstrato. Nós vamos, na verdade, ver a reindustrialização de Pernambuco,

vamos ver o estado do fazer ser consolidado, com um método de gestão extremamente moderno. Vamos ver o crescimento da estrutura educacional, levando a 160 escolas em tempo integral, 104 no regime semi-integral, 60 escolas técnicas ao todo funcionando, cada microrregião do estado com universidade, seja do estado ou federal, ancorando o desenvolvimento e a formação de pessoas. Estamos vendo obras de infraestrutura, sonhadas há muitas décadas, rodando neste horizonte. A Transnordestina, o próprio Porto de Suape se consolidando como o mais importante porto público do Brasil entre os três da estratégia de desenvolvimento nacional. Vamos ver a maior obra de recursos hídricos sendo concluída, chegando na casa das pessoas, que é Pirapama, e outras sendo entregues em várias áreas, como a adutora do Agreste. Vamos ver uma refinaria, mais um estaleiro, ver uma Fiat rodar, o desemprego se reduzir à metade do que é, como estamos vendo os indicadores de segurança pública chegarem acima da meta nacional.

E qual será a cara do próximo governo?A cara do próximo governo é embalar esse Pernambuco. É consolidar essenovo Pernambuco. Dobrar o PIB em dez anos. É um governo num momento muito próprio da economia. Posso dizer aqui dez obras que vão confluir e concluir de uma vez só. Não é brincadeira. Sair de uma geração de 30 mil empregos/ano para 107 mil empregos/ano. Você ter cinco escolas técnicas funcionando e passar para 60 funcionando. Ter faculdade de Medicina em Garanhuns, Serra Talhada e arrumar dinheiro para tudo isso. Você está construindo o quê? Qual o resultado disso? É qualidade de vida. Podemos constatar o ânimo das pessoas na rua. As pessoas acreditam mais no futuro de Pernambuco do que no futuro do Brasil. Nós enterramos a tese da corda de caranguejo. Essa é uma das alegrias que eu tenho. Nós enterramos essa tese da corda de caranguejo um puxando outro para baixo. Nós estamos vivendo um tempo diferente. A nossa alegria é ver Pernambuco ter direito a futuro, de sonhar, de ver seus sonhos saírem do papel e entrarem na vida das pessoas. Isso é o que as pessoas falam nas ruas, na fila do banco, na missa. Ninguémnunca viu Pernambuco tão animado.

Vai lançar mão de parcerias privadas para fazer concessões?Não tem nenhuma prevista porque não se sustenta. A concessão ela só se sustenta onde tem aquele volume de interesse. Tem que ser com os recursos do estado como nós estamos fazendo. Ali (em Suape) não porque a infraestrutura que existe está utilizada por caminhões que passam constantemente, gerando desgaste nas estradas que temos que cuidar. Essas pessoas têm como pagar a Suape. O que a gente quer é que, quem circular por dentro de Suape, levando e trazendo riquezas e que estão ganhando dinheiro com aquele operação deixe algum dinheiro para manutenção das vias e dos investimentos.

O que acha que nesses quatro anos de mandato não conseguiu cumprir ou não cumpriu como gostaria? A gente sempre queria fazer mais. Eu tenho consciência, as urnas falaram isso. O povo sabe que a gente fez muito. Sinceramente fizemos muito. Fizemos com gosto de fazer. Fizemos com empenho, com humildade, com disciplina. Fiz com muita energia nesses quatro anos. E quero fazer mais nos próximos quatro anos. Estou preparado para fazer até o último dia do meu mandato. Cumprirei o meu mandato com determinação, consolidando esse momento econômico e, depois, andar nas ruas do Recife, de Pernambuco inteiro e ser tratado como sou tratado hoje. É isso o que me move. O resultado das urnas é a expressão de muito respeito, muito carinho, muita crença. Todo dia peço a Deus para ter força - o que Ele tem dado - para junto com a nossa equipe e a ajuda do povo, construir esse daqui pra melhor, que estamos mostrando. Da eleição pra cá já apareceu o daqui para melhor. Me sinto desafiado. Gosto de desafio e de dar conta dos nossos compromissos.

Qual será a diferença desse mandato que se acaba com o próximo?No primeiro momento nós arrumamos o modelo, as demandas e depois partimos para a segurança, Pacto pela Vida, para educação e saúde. Hoje, esse trem rodou. Hoje é o sistema. Não é o foco de um. Tenho que consolidar o modelo de gestão e vamos consolidar esse crescimento da economia. O que a gente tinha que arrancar de investimentos estruturadores nós arrancamos em quatro anos e estamos tirando do papel e agora concluir isso. Isso não cabe mais em um governo segmentado. O foco é a consolidação dessa transformação na economia e no estado com as políticas públicas e é isso que estou disposto a fazer nesses quatro anos.

O senhor vai cumprir o mandato até o final?Hoje, o meu projeto é esse. Meu projeto é cumprir meus quatro anos de mandato. Dar conta desse mandato até o último dia. As pessoas falam em 2014 comigo. É natural que falem. Mas não podemos tocar as mudanças que estamos tocando olhando a eleição de 2014. Não vou fazer isso com o povo de Pernambuco. Meu foco é fazer o que tenho que fazer. Fiz isso quando ganhei a primeira eleição. Em 2014 a presidente Dilma tem precedência na disputa, se ela não for candidata por alguma razão, tem Lula que tem precedência. O presidente Lula está no tabuleiro. Estou aqui inteiramente tranquilo e decidido que vou daqui até o 31de dezembro de 2014. Se um dia isso mudar, eu falo com vocês. Tem que ter um fato que mude isso.

Vai ter dificuldade de fazer o seu sucessor ou não?Aí só o tempo é que vai dizer. Não vou abrir o debate sucessório agora. Não tenho dificuldade em escolha não. Quem trabalha comigo sabe. Não sou indeciso. Colocou o problema na minha frente, eu decido.

Fonte: Diario de Pernambuco

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